da Folha SP
Vista com simpatia no Ocidente, Benazir Bhutto, 54, era uma líder política desgastada, mas ainda muito significativa, em seu próprio país. Ela fora duas vezes eleita premiê e duas vezes derrubada em meio a escândalos de corrupção; até ontem, era novamente uma das favoritas nas eleições marcadas para 8 de janeiro.
Benazir nasceu em 21 de junho de 1953 em Karachi, numa família de políticos tradicionais no Paquistão - comparáveis, para o jornal britânico “Financial Times”, à dinastia Kennedy nos EUA. Seu pai, Zulfikar Ali Bhutto, um político nacionalista -”exibicionista e pró-democracia”, segundo o “New York Times”-, foi premiê do Paquistão entre 1973 e 1977.
O governo de Zulfikar Bhutto foi derrubado em 1977 por um golpe do general Mohammed Zia-ul-Haq. Dois anos depois, Zulfikar seria executado por ordem judicial. Antes da morte do pai, Benazir foi presa por motivos políticos. Libertada, seguiu para Londres, só retornando à terra natal em 1986, prometendo levar o Partido do Povo do Paquistão (PPP) de volta ao poder. Ela havia herdado a lealdade a seu pai dentro do partido, que ele fundou e ela veio a personificar.
Governo sob suspeita
Em 1988, aos 35 anos, ela cumpriu sua promessa. A paquistanesa educada em Harvard e Oxford após sair de um convento em Karachi encantou o Ocidente ao eleger-se a primeira mulher chefe de governo de uma nação muçulmana moderna. Substituía o ditador Zia-ul-Haq, morto em circunstâncias suspeitas em um acidente de avião.
Benazir levou o apoio de Washington e de Londres ao Paquistão. Mas seus dois governos -de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996- foram dissolvidos por diferentes presidentes em meio a acusações de desvio de dinheiro. Ela enfrentou processos por corrupção não apenas no Paquistão mas também na Suíça (que a condenou em 2004 por lavagem de dinheiro), Espanha e Reino Unido.
Benazir sempre alegou inocência. Após a segunda queda, ela se impôs um auto-exílio de oito anos para escapar dos processos, enquanto seu marido, Asif Ali Zardari, 51 -conhecido como “Mr. 10%” no Paquistão-, cumpria sete anos de sentença. Com três filhos, o casal, que possuía casas em Dubai, Londres e Nova York, era suspeito de ter desviado US$ 1,5 bilhão.
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