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quinta-feira, 1 de maio de 2008

Grau de investimento é boom ou bom?

Foi durante o ano de 2001 que passei a conceder a mesma credibilidade que empresto à palavra dos políticos para a avaliações das agências de risco: zero, daqueles elevados à décima potência. Afinal, foi naquele ano que as vimos envolvidas no que seria um dos maiores escândalos do mercado financeiro, o episódio da falência da Enron. Na ocasião, quatro dias antes de a empresa anunciar que estava quebrada, lembro bem de ter lido que as agências de risco estavam garantindo o grau AAA (o maior possível) para a empresa. Diziam eles que não havia nada a temer.
Há poucos dias atrás eu poderia ter me surpreendido novamente se ainda tivesse alguma consideração pelas avaliações delas. Ao mesmo tempo em que reafirmaram o grau AAA para a Mbia, empresa problemática do setor de seguro de títulos mobiliários, e rebaixaram a Pfizer, gigante do setor farmacêutico. Os detalhes são escabrosos: a Pfizer apresenta nesse momento um retorno sobre o patrimônio líquido de 12%, a Mbia -35%. A Pfizer lucrou no trimestre US$ 47 bilhões, a Mbia perdeu US$ 1,66 bilhões. A margem de lucro da Pfizer está em 15%, a da Mbia -61%.
Assim, é com postura de ceticismo que recebo a notícia de que o Brasil foi re-classificado pela Standard & Poor´s, elevando a nota de risco do país para grau de investimento, patamar que nos coloca em pé de igualdade com outros emergentes, tais como China, Índia e Rússia.
Se por um lado a notícia é positiva, elaborando uma possibilidade para que os nativos, em especial o governo, consigam financiamentos com captação no exterior a um menor custo, por outro lado, no que tange à bolsa de valores, a re-avaliação pode ter vindo não só atrasada, mas em uma hora extremamente complicada.
Alguns dados mais recentes dos balanços trimestrais das empresas listadas em bolsa apontaram uma considerável redução no crescimento do lucro. A Vale, por exemplo, foi um desses casos. Seu resultado trimestral caiu 55% em relação ao apresentado no começo de 2007, com a empresa registrando em seu relatório sobre o balanço que espera que a situação de lucro menor em relação ao ano passado permaneça pelo menos nos próximos trimestres.
Com essa alteração nos fundamentos, ainda que momentânea, tudo que algumas ações da nossa bolsa não precisariam nesse momento é de preços mais altos.
De fato, se levarmos em conta o modelo utilizado por Warren Buffet, de dividendos descontados, de acordo com o resultado do primeiro trimestre, algumas ações, dentre elas as da Vale, teriam que ter um downside, em vez de novas valorizações. Essa é a primeira vez dentro do espaço de alguns anos em que vejo o modelo indicar preço justo abaixo do praticado pelo mercado.
O grande boom de 2002 para cá teve como maior força justamente a forte expansão dos resultados das empresas. E nesse momento em que essa situação de expansão está se tornando, no mínimo, indefinida, é recomendável ter mais cautela do que o normal. Pelo menos até que as tendências de longo prazo estejam novamente mais visíveis.
Evidente que não faz sentido algum nadar contra a corrente, e com a notícia do grau de investimento há potencial para que a bolsa vá acima dos atuais patamares, talvez bem acima do que a maioria de nós possamos esperar. E não aproveitar esse movimento, tomadas as devidas precauções quanto ao risco que ele apresenta, seria pouco inteligente.
Mesmo assim, convém estar atento aos fundamentos do mercado como um todo, pois provavelmente, nesse momento, e com esses números, qualquer movimento de valorização excessiva poderá estar marcado muito mais pela euforia do que pela razão. E esse tipo de subida descolada da racionalidade costuma acabar muito mal: tanto pior é, quanto mais alto vai.

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