Plus500

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Raio X da crise americana

Aproveitando o dia mais tranquilo nos mercados, resolvi exercitar o meu modesto "economês" e tentar fazer um raio x do que eu imagino esteja acontecendo com a economia americana e consequentemente com a mundial. Dividindo em segmentos, faço um apanhado resumido das informações sobre essa crise que promete ser lembrada no futuro, como o estopim da retração da liquidez mundial.

Setor Imobiliário

A origem de tudo. A construção de novas casas, que representa 4% do PIB americano, despencou. A venda de residências novas continua em queda livre. Trazendo consigo os preços, que para muitos analistas, já começam a ficar interessantes em muitas regiões.

Desde 1997 os preços das residências mais que dobraram em termos reais. Em particular, a alta dos preços residenciais fornece aos consumidores a garantia de que precisam para um aumento enorme na tomada de crédito.

Em crises americanas do passado, o mercado imobiliário sempre foi o sintoma de que uma recessão se aproximava, e não a causa. Desta vez, a fonte do problema está no próprio estouro da bolha imobiliária.

Endividamentoraiox2

Em relação à sua renda, os consumidores vêm assumindo mais dívidas há décadas, uma vez que o sistema financeiro[bb] cada vez mais sofisticado dos EUA possibilita acesso ao crédito a mais pessoas. Mas o ritmo do endividamento subiu dramaticamente. A relação da dívida dos domicílios americanos com a renda disponível está agora acima dos 130%. No começo desta década, era de 100%; no começo da década de 90, era de 80%.

Consumo

Estudos sugerem que as mudanças nos preços das residências têm um impacto maior sobre os gastos do consumidor[bb] em países onde os mercados de crédito são mais desenvolvidos, como os EUA. Esses trabalhos concluem que uma queda de US$ 100 na riqueza financeira é tradicionalmente associada a uma queda de US$ 3 a US$ 5 nos gastos. Já uma queda equivalente no patrimônio habitacional acaba reduzindo os gastos em algo entre US$ 4 e US$ 9.

Considerando o tamanho do setor habitacional é possível prever que os gastos do consumidor cairiam quase dois pontos percentuais por ano.

Crédito

Por outro lado os bancos já estão reagindo. Segundo a pesquisa mais recente feita pelo Fed com funcionários de bancos americanos responsáveis por empréstimos, um quarto das instituições elevaram suas exigências para empréstimos ao consumidor. Assim o americano começa a ter dificuldades de obter recursos emprestados.

Petróleo

Com a perda de liquidez, o americano deve torcer para que o petróleo continue com sua recente tendência de queda. Afinal de contas, qualquer aumento, por menor que seja, na gasolina, tem um forte impacto no poder de consumo da população. Segundo dados do Goldman Sachs, esse número pode chegar a 1,2% aa sobre os gastos do consumidor.

Mercado de Trabalho

Até o momento parece estar resistindo bem a toda a turbulência. A divulgação hoje, do número de pedidos de auxilio-desemprego, ficando abaixo da raioxexpectativa dos analistas, reforça o fato que as empresas ainda não começaram a dispensar funcionários e a retrair drasticamente a produção.

Exportações

Boa parte da estabilidade do emprego se deve as exportações. As exportações americanas estão aquecidas enquanto o crescimento das importações diminuiu bastante. Isso reduziu o déficit comercial dos EUA e elevou a produção industrial. As exportações não continuarão crescendo às taxas alucinantes dos últimos meses, mas com o dólar dando sinais tímidos de recuperação e com as economias emergentes se mostrando particularmente resistentes, as exportações continuarão sendo um impulso importante.

Recessão

Juntando todo o exposto acima, teremos (ou já temos) uma recessão ? Difícil de dizer. O ponto em questão é que mesmo que a economia evite tecnicamente uma recessão, a maioria dos americanos terá a impressão que estar em meio a ela - uma vez que a queda virá do consumo. E isso representa uma mudança profunda. Os americanos não estão acostumados a terem que reduzir os gastos. Mesmo nas recessões anteriores, políticas de corte nos impostos, juros baixos e preço alto das residências, permitiram a população continuar gastando.

Agora as mesmas medidas vem sendo adotadas. Bush entrou em ação com um mega pacote tributário… Bernanke surpreende cortando os juros, em uma reunião extraordinária. Se serão suficientes esses eventos, em breve saberemos.

Uma coisa porém parece certa. Neste ano eleitoral, com recessão ou sem, os EUA têm uma estrada traiçoeira pela frente.

CHR Investor

Um comentário:

Anônimo disse...

Creio que o buraco seja muito mais embaixo, a crise do setor imobiliário não pode ser considerada o vilão da história e sim a ultima gota d´água. Há anos existe uma "total" falta de regulação do mercado financeiro graças a crença muitas vezes hipócrita da auto regulamentação do mercado. Devido a este fundamentalismo (de mercado) que prega que o Estado (e a quem ele representa, o povo) não pode interferir na economia, algumas instituição financeiras manipularam o mercado de forma criminosa, assumiram riscos absolutamente inaceitaveis em busca de lucro fácil e rápido.Perdeiu-se totalmente a dimensão da direferença entre o que é produzir riqueza (atraves do trabalho)e produzir apenas dinheiro (sem trabalho, apenas especulando).Durante muito tempo isto foi uma verdadeira "festas" mas parece que a ressaca está começando. Qualquer um com um mínimo de conhecimento sabia que isto iria acabar mal, só não se sabia quando e como a bomba iria estourar. Agora o Estado que não deveria se meter em assuntos de mercado é obrigado a usar dinheiro público,do contribuinte para salvar os bancos. O pior é que não se tem notícia de nenhum dos banqueiros que lucraram muito, mas muito mesmo durante esta farra financeira, sendo "convidado" a dar sua contribuição para resolução da crise. Não acreditem que a maior partes deles perderam tudo que tinham, pois os bancos quebraram (pessoa juridica) mas o patrimonio que muitos banqueiros adquiriram durante esta "farra"(que esta em nome da pessoa física ou de laranjas) na maioria dos casos esta a salvo e não será usado para tampar o rombo no setor financeiro. Miltom Santos disse uma frase muito pertinente sobre esta situação. "O capitalismo privatiza os lucros, mas solializa os prejuízos" Agora todos nós teremos que pagar pela irresponsabilidades de "meia dúzia" de grandes especuladores que querem nos fazer acreditar que o mercado se auto regula quando na realidade são eles que tem grande influencia sobre o mercado.
Se estes grandes especuladores não forem punidos, vai continuar sendo um bom negócio se envolver em práticas de riscom com o dinheiro dos outros.