Plus500

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Nosso problema está na inflação, não nos índices

Hoje saiu um dos índices de inflação na FGV – e veio alto, com um ponto importante: preços agrícolas, que vinham acelerando, desaceleraram, na média. Em compensação, os preços industriais aceleraram.
Ficamos assim, portanto: um dia, a culpa da inflação é do feijãozinho, como dizia o ministro Mantega; outro dia, o tomate; outro, o aço; outro, o álcool. O que significa que o problema é geral – toda semana tem seus culpados.
O pior que as autoridades podem fazer é se enganar com esse tipo de conta: mas se não fosse o feijão, a inflação estava baixa; tirando mais o leite e queijos, e estava tudo resolvido.
É como eles fazem na Argentina, na manipulação do índice oficial: os preços que sobem muito são considerados “anomalias”, fenômenos “fora da tendência”, de modo que são retirados do cálculo.
Já se fez isso no Brasil, nos anos 70. Conta-se que o ministro de plantão perguntava ao pessoal das estatísticas quando lhe diziam que a carne tinha estourado: “Mas o pessoal está comendo carne?”
E quando lhe respondiam – “bom, o consumo diminuiu, lógico, com esse preço!” – o ministro determinava: se não estão comendo, não influencia no custo de vida, logo, tirem do índice.
Hoje, claro, não se pode mais fazer isso no Brasil. Começa que o pessoal do IBGE não toleraria.
De modo que temos mesmo que lidar com a inflação em alta, não com o índice. Na próxima sexta, por falar nisso, sai o IPCA abril, do IBGE, o índice oficial, utilizado pelo Banco Central como referência no regime de metas de inflação.
Segundo o professor da PUC-Rio, Luiz Roberto Cunha, que entrevistei hoje na CBN, o resultado deve ser 0,55% para abril, dando um acumulado em 12 meses de 5,17% - portanto já acima do centro da meta de inflação para este ano, de 4,5%.
Eis por que o BC está elevando os juros. Aliás, nos debates sobre inflação global, diretores de BCs de outros países têm considerado correta a atuação do banco brasileiro. O diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, ainda hoje, apoiou ações brasileiras na administração da crise de alimentos.

Nenhum comentário: