Plus500

sábado, 21 de junho de 2008

Ao consumir mais, brasileiro ‘faz a sua parte’

No ano passado, os brasileiros compraram 2,31 milhões de carros e comerciais leves (tipo jipes e caminhonetes), tudo zero quilômetro e cerca de 80% pagos no crediário. Mercado bombando, demanda superaquecida.

Parece dar razão à tese de que, beneficiados com o crédito farto e prazos longos, ofertado por bancos ávidos de lucros, os consumidores brasileiros foram às compras com disposição até irresponsável. Tudo terminando em excesso de consumo, filas e inflação.

Será?

O licenciamento de veículos novos em 2007 registrou um salto de 27,8% sobre o volume de 2006, mais um dado a favor do excesso.

Será de novo?

Vejamos outra comparação: o licenciamento de veículos novos em 2007 foi 25% superior ao de … 1997, dez anos atrás!

Isso mesmo, o número de automóveis e comerciais leves comprados e licenciados em 2006 (1,83 milhão) foi menor do que o verificado em 1997 (1,87 milhão).
Ou seja, durante nove anos seguidos o mercado de automóveis no Brasil encolheu, embora a população tenha aumentado de 24 milhões.

Resumindo: o mercado subiu logo depois do choque de estabilização provocado pela introdução do real, em 1994. Com moeda estável e dólar baixo derrubando a inflação, o poder aquisitivo aumentou, o crédito melhorou e as pessoas foram às compras.

A partir de 1997, as seguidas crises internacionais, combinadas com o longo, difícil e doloroso processo de reformas internas, a economia brasileira alternou alguns bons momentos e muitos sobressaltos, com surtos de inflação e de desvalorização do dólar.
Em consequência, o crescimento foi baixo e caiu o poder aquisitivo. Houve anos de queda da renda real, ou seja, quando as pessoas chegam em dezembro mais pobres do que eram em janeiro. O mercado encolheu.

De 2003 para cá, uma feliz combinação mudou o cenário: economia mundial em extraordinário crescimento e demandando produtos que o Brasil podia entregar; forte crescimento das exportações, trazendo dólares abundantes para o país, que resolveram o problema da dívida externa e da inflação; e maturação das reformas e mudanças que culminaram com uma inflação baixa e contida, contas públicas equilibradas.

Conquistada a estabilidade macroeconômica, o Brasil voltou a ser um país normal. E um país normal tem crédito, por exemplo.

Em 2002, o crédito tomado pelas empresas e pessoas equivalia a 22% do PIB. Lógico, como dar crédito com insegurança quanto ao valor futuro da moeda?

Neste ano, o crédito está chegando a 41% do PIB, o dobro do verificado há apenas seis anos.

É exagero?

Não, errado era em 2002.

Há países parecidos com o Brasil em que o crédito concedido equivale ao dobro do brasileiro. Ou seja, cabe mais crédito aqui.

Assim, tendo de volta o emprego, a renda e o crédito, o consumidor brasileiro voltou ao mercado. Reparem, de novo: levamos dez anos para retomar o consumo de automóveis. Só em 2007 o número de carros comprados ultrapassou o nível de 1997.

Não se pode chamar de exagero, mas de retorno à normalidade.

O mesmo vale para itens importantes. Por exemplo: decolou a venda de computadores. É que os computadores eram muito caros e não havia crédito.

Em um dado momento, com a combinação de redução de impostos e estabilidade macroeconômica, o preço dos computadores caiu e, com o crédito mais longo, foi possível comprá-los nas grandes lojas de departamento a prestações de R$ 30.

Isso é o normal. Anormal era ter de pagar R$ 3 mil à vista.

Ou seja, havia muito consumo atrasado no país.

O problema é que o crescimento do consumo é mais rápido do que a da produção – e isso aocntece em qualquer país.

E é esse problema que o Brasil enfrenta agora.

Mas a culpa não é do consumidor.

Para falar francamente, o consumidor fez o que se espera dele: ir às compras.

Carlos Alberto Sardenberg

Nenhum comentário: