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terça-feira, 10 de junho de 2008

Cesta básica

Há um enorme motivo para se preocupar com a inflação, ainda mais quando ela está bastante atrelada à alta de alimentos: quem mais sofre quando a comida fica cara são as camadas de menor renda. Ontem o IGP-DI veio alto. Entre os itens de maior pressão, lá estão, de novo, os alimentos. Também ontem, na reunião ministerial, a inflação — e a crise dos alimentos — foi o grande assunto.

Não é só a alimentação que vem jogando os índices de preço para cima, mas é ela que vem pedindo mais cuidados quando se trata de combater a alta de preços. Para começar, alimentos em alta significam gastos muito maiores para a população de baixa renda. O grupo alimentação — sobretudo quando se trata de produtos básicos — é menos elástico. A demanda por eles aumenta e diminui menos, afinal não se dá para deixar de comprar comida completamente.

Dois dos índices de preços calculados pela FGV mostram como acontece esta distinção nos gastos entre as pessoas de menor ou de maior renda. Um deles, o IPC-C1, é calculado tendo como base a cesta de compras de uma família com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos mensais. O IPC-BR, entre 1 e 33 salários mínimos. No primeiro, os alimentos representam 40% das despesas; já no segundo, equivalem a 28%. Isso mostra que quase metade da renda dessas famílias que recebem até 2,5 salários mínimos vai para comprar comida. O reflexo disso é que, em 12 meses, o IPC-C1 registra alta de 8,24% e o IPC-BR, de 5,59%.

O momento por que passa o Brasil não é só nosso. Assim como acontece com as famílias, também sofrem mais com a alta de alimentos os países mais pobres. Nos Estados Unidos, por exemplo, 15% do índice de inflação são alimentos; nos países da Zona do Euro, é um pouco menos que isso. Na Argentina, é em torno de 30% e na Rússia, 40%. Como se vê, o Brasil nem é onde a comida tem o maior impacto, isso porque temos essa feliz vocação para celeiro. No entanto como a demanda (e os preços) tem aumentado internacionalmente; os insumos, como os fertilizantes, encarecem; e a renda também cresce aqui, eles acabaram subindo.

Dado todo esse cenário, o governo centrou fogo ontem na alta dos alimentos. O presidente decidiu que precisa usar outros mecanismos, além do aperto nos juros. Alguns ministros, porém, parecem estar indo num caminho que pouco ajuda. O argumento de que os fertilizantes são os grandes responsáveis não é falacioso, mas é curto para uma crise que preocupa o mundo inteiro. E mais: parece sugerir novas e polpudas ajudas aos produtores.

Em tempos assim, o que fica claro é que controlar a inflação não é só função — ou capricho — do Banco Central, é também uma forma de manter o poder de compra da população. No caso dos de menor renda, é garantir comida na mesa.

Miriam Leitão

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