Plus500

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Inflação, essa desconhecida

Me chama a atenção que os bancos centrais de todo o mundo, o nosso incluso, andam registrando uma posição bastante firme, no discurso, de que estão preocupados com a inflação. É uma fala antagônica, pois enquanto parecem decididos a tomar "duras medidas" para conter os preços, continuam a expandir com afinco a base monetária, seja na forma de moeda ou de crédito.

Veja o caso do Brasil. O dado mais recente, fornecido pela Bloomberg, aponta para um M2 (medida de expansão monetária) em torno de 23% ao ano, mais de 10 pontos percentuais acima da taxa básica de 12,25%. Enquanto isso, os números oficiais anunciam que a inflação de doze meses gira em apenas 5% anuais.

Essa mágica na subtração é possível porque infelizmente o entendimento sobre o que de fato é inflação ficou perdido no tempo, em algum momento após o abandono do lastro do dólar no ouro, no começo da década de 70. Esse evento, comandado pelo presidente Nixon, marcou uma mudança histórica no modo como os bancos centrais passaram a explicar para a sociedade a inflação.

A partir daquele momento os governos perceberam que podiam fazer o que quisessem com a inflação, desde que mantivessem a população ignorante no assunto através das chamadas "expectativas de inflação". O mecanismo empregado foi bastante simples: bastava alterar a publicação da taxa de expansão na quantidade de moeda e/ou crédito dentro da economia, por um simples exercício estatístico duvidoso que pretendia medir quanto o custo de determinados produtos iriam se alterar.

Como as moedas de todo o mundo abandonaram todo e qualquer lastro real, os limites de expansão monetária foram completamente removidos, e enquanto as pessoas não percebessem os preços se alterando não haveria mais empecilho algum em termos de emissão de bonds para financiar as contas públicas ou mesmo em permissão aos bancos para gerarem novos empréstimos. Políticos e banqueiros adoraram a idéia.

A partir da década de 90, um outro fator foi decisivo para tornar exponencial a criação de crédito. Com o outsourcing que muitas empresas de atuação global iniciaram, em conjunto com preços baixíssimos de matérias-primas, foi possível realizar um aumento absurdo da produtividade de manufaturados, o que se materializou no oferecimento de produtos com baixo custo para os consumidores.

E como a inflação agora se ancora na percepção dos preços, a queda deles deu ampla margem para que os bancos centrais ao redor do mundo autorizassem uma verdadeira explosão na criação de crédito, sem que os efeitos dessa política inflacionária tivessem visibilidade nos anos anteriores.

Somente agora, algum tempo depois, o sistema financeiro começa a sentir os efeitos dessa produção excessiva de crédito.

O primeiro deles é no reconhecimento de que boa parte desses débitos jamais terão como ser quitados (subprime e afins), fato que tem gerado imensas perdas para os agentes financeiros. O próprio banco central americano entrou em pânico nos últimos meses com esse problema, e apesar de terem gestado mecanismos inéditos que tentaram recriar esse crédito podre (put lipstick in a pig), o máximo que conseguiram foi esconder as perdas através de mecanismos de troca temporário-permanentes (os chamados swaps).

O segundo efeito começou a ficar mais visível apenas nos últimos 12 meses, quando a depreciação do câmbio em relação às cotações de bens tangíveis literalmente disparou, como é o caso do petróleo e também dos alimentos.

Jens O. Parsson, um dos grandes pensadores da escola austríaca de economia, definiu muito bem esse cenário quando descreveu em seu livro, "Dying of Money", as características de uma expansão inflacionária:
Todos apreciam o estágio inicial de uma época de inflação. Os efeitos são todos positivos. Há constante expansão monetária, gastos crescentes no governo, déficits fiscais ascendentes, mercados de ações em alta e um espetacular senso de prosperidade, tudo em meio a uma temporária estabilidade nos preços. Todos se beneficiam e ninguém paga. Este é o estágio inicial de uma expansão inflacionária.

Nos estágios mais tardios, por outro lado, todos os efeitos são maléficos. O governo poderá ainda aumentar a criação de inflação com a intenção de conter os efeitos finais, mas eles aguardarão com paciência.

Na fase terminal da inflação, a prosperidade desaparece, o dinheiro se torna escasso, mercados de ações caem, impostos são aumentados e imensos déficits fiscais por parte do governo surgem, agora acompanhados pela disparada dos preços e a ineficácia dos tradicionais remédios.

Esse é o ciclo de cada episódio de inflação.
Esse é o ciclo.

E, perdão pelo neologismo, mas todos os ciclos "ciclam".

Cinco pesos de dois quilos

Nenhum comentário: