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terça-feira, 24 de junho de 2008

Just-in-time prá ontem só amanhã

A próxima quarta-feira, dia 25, promete ser de bom grado para os motoristas de veículos leves que não gostam de dividir a pista com o tráfego pesado dos caminhões. Está agendada para esta data uma paralisação nacional de caminhoneiros. E como 58% da produção do país é movimentada por eles, ao que tudo indica as rodovias deverão ficar mais tranqüilas.

A greve, promovida pela Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), encontra suas raízes em uma decisão equivocada do governo. E pode trazer a tona um sério risco que as grandes cidades se acostumaram a esquecer.

Os caminhoneiros afirmam que o estopim para o movimento grevista deu-se com o aumento no preço do óleo diesel em 15%. Você que dirige um carro provavelmente nem deve lembrar desse fato, pois para evitar o custo político de aumentar a gasolina em ano eleitoral o governo resolveu subir os preços do diesel. Assim ficaria de bem com os compradores de automóveis que mês após mês vêm fazendo a festa das concessionárias.

Por outro lado, os governantes entenderam necessário esse aumento de 15% naquele que é o combustível base para o transporte de cargas e também coletivo. Um incentivo às avessas para o uso racional da energia: para os veículos que transportam comodamente o peso leve de no máximo dois ou três passageiros o preço está mantido. Para os demais, a conta.

Agora, varejistas estão preocupados com o anúncio da greve.

Graças à globalização, fomentada por algumas décadas de combustíveis em preços historicamente baixos, empregar grandes estoques se tornou não apenas dispendioso, como algo estúpido. Arcar custos de manutenção e segurança em grandes espaços de armazenagem não faria sentido se os preços estivessem estáveis e fossem baratos de transportar. Just-in-time! Peça quando precisar em vez de se preocupar com os custos de estocagem e com o capital imobilizado em mercadorias!

A situação se tornou tão corriqueira que mesmo as famílias urbanas adotaram tal procecimento: abandonaram o freezer gastador de luz e a despensa de alimentos. A segunda provavelmente daria um bom closet, alguém há de argumentar. É verdade.

Mas na semana que passou, grandes varejos tiveram uma recaída. Frente ao anúncio da greve, empregaram uma corrida maluca para abastecer os outrora relegados estoques. Mesmo assim, há grande preocupação que a greve se extenda além do desejado e que isso faça com que alguns produtos faltem no mercado. Sobretudo aqueles de necessidade básica.

Aposto que os teóricos japoneses do just-in-time não contavam que o pico mundial na produção de petróleo, uma lamentável decisão política e uma massa de caminhoneiros descontentes pudessem ameaçar o academicismo cinqüentenário que estava funcionando tão bem.

Cinco Pesos de Dois Quilos

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